Gorendill: 1410 (10)

Como diz o ditado: “quem é vivo sempre aparece”. Depois de um período de hiatus vergonhosamente longo (especialmente após ter prometido a mim mesmo me dedicar mais a escrita), estou de volta. Não vou dar desculpas, apenas lembrar que os últimos anos foram difíceis para todos.

Em vez disso, vamos falar do futuro. Primeiro, a pergunta que não quer calar: sim, pretendo continuar escrevendo sobre “Gorendill: 1410”. Sempre tive grande apego e expectativas quanto a este projeto, e estou comprometido a levá-lo até o final, custe o que custar. Tendo dito isso, vale um aviso: não vou me ater ao canônico do cenário. Quando comecei este projeto, tinha uma certa visão sobre em que direção queria levá-lo, e alguns materiais oficiais lançados recentemente não se encaixam no que eu tinha planejado. Posso vir tirar alguma inspiração daquilo que for compatível, mas, na prática, estarei seguindo os meus próprios rumos daqui pra frente.

Em nota similar, estarei me atendo ao sistema do Tormenta RPG, e não tenho intenções de migrar para o Tormenta20. Eu vivo pela crença de que “não se mexe em time que esta ganhando”. O TRPG não era perfeito, mas suas falhas podiam ser facilmente corrigidas através de revisões modestas das regras. Na minha opinião, mudanças radicais de sistema (como as que foram feitas no Tormenta20) trazem mais mal que bem ao cenário, uma vez que elas comprometem o uso de materiais mais antigos.

Sendo assim, começo aqui uma nova fase de minha carreira artística. Sem mais delongas, fiquem com a Arena Secreta de Gorendill.


Arena Secreta de Gorendill

Em Arton, competições de todo o tipo estão entre as mais populares formas de entretenimento. Os torneios de Bielefeld. As corridas de cavalos de Namalkah. Todos são espetáculos com entusiastas espalhados pelo Reinado inteiro. E dentre todos eles, os jogos de arena são sem dúvida os mais queridos pelo povo comum.

Mas apesar de sua popularidade, este é um passatempo para poucos. Grandes anfiteatros são obras arquitetônicas custosas, de difícil construção e manutenção. Além disso, administrar um circuito de lutas deste porte requer recursos em abundância e mão de obra especializada – algo difícil de se encontrar mesmo nas mais prósperas das metrópoles. Todo esse custo acaba sendo repassado para os fãs, na forma de altas taxas de entrada e outras tarifas. A maioria dos artonianos dificilmente vai ter condições de bancar com todas essas despesas.

Ainda assim, as vezes é possível encontrar opções mais modestas e acessíveis escondidas em algum canto de Arton. É o caso da Arena Secreta de Gorendill.

O Gladiador Aposentado

Como é comum em casos como esse, as origens da Arena Secreta estão intrinsicamente ligadas ao passado de seu criador – o ex-gladiador Sebastian Nilen (Humano, Guerreiro 5/Gladiador Imperial 2, N). Filho de uma humilde família de Triunphus, Sebastian recebeu treinamento de combate do pai, que esperava que este seguisse seu exemplo e um dia ingressasse na Guarda da Fênix. Entretanto, contrariando os desejos da família, ele decidiu por tentar a sorte nos Jogos realizados na Avenida Central.

A carreira de Sebastian como gladiador foi, no mínimo, brilhante. Suas lutas eram espetaculares, atraindo enorme audiências. Não demorou para que ele fosse convidado a participar de competições fora de Triunphus, chegando inclusive a fazer apresentações regulares na Arena Imperial de Valkaria – aonde acumulou fama e riquezas para uma vida inteira. Entretanto, devido exatamente ao seu sucesso, ele acabou se envolvendo com o lado mais obscuro das arenas. Competições arranjadas. Combates puramente teatrais, com enredos ensaiados e mortes falsas. Mesmo que a contragosto, Sebastian não teve escolha se não participar deste tipo de farsa – algo que viria a ter uma grande influência em suas decisões no futuro.

Passaram-se os anos e o gladiador acabou ficando velho demais para uma vida nas arenas. Se aposentou, mas não retornou para Triunphus. Ao invés disso, fixou residência em uma cidadezinha de Deheon que havia visitado rapidamente durante um de seus tours pelas arenas de Arton, e que lhe deu a impressão de ser um bom lugar para viver uma vida pacata. Tratava-se de uma jovem Gorendill.

O julgamento de Sebastian estava correto: a vida em Gorendill era tranquila. Tranquila demais! Acostumado com as exaltações das arenas, não demorou muito para que ele ficasse entediado com a sua nova rotina – que se resumia apenas a comer, dormir e perder tempo na Taverna do Minotauro. Ele rezava aos vinte deuses por qualquer coisa que o ajudasse a espantar o tédio.

A resposta às suas preces veio na forma de uma simples briga de taverna entre dois guerreiros. Como de costume, Biggorn resolveu a situação rapidamente com alguns golpes de clava. Ainda assim, aqueles poucos minutos de peleja foram suficientes para inflamar os ânimos de todos os presentes – incluindo o próprio Sebastian.

Conhecia muito bem aquilo: era o mesmo clima que impregnava as arenas de jogos durante suas lutas.

Foi nesse momento que Sebastian teve uma epifania. Era impossível voltar a lutar como gladiador – estava simplesmente velho demais. Entretanto, nada o impedia de promover competições como um empresário e assim desfrutar da euforia através das disputas de outros. A idéia lhe pareceu repulsiva a princípio (ele ainda tinha certo trauma quanto ao seu antigo empresário, que o havia forçado a participar das lutas encenadas), mas então percebeu que tudo poderia ser resolvido caso operasse em um local onde ocorressem apenas combates reais.

Não demorou para que então surgisse a ambição de abrir sua própria arena. Um local com disputas justas e imparciais, em que a corrupção dos grandes anfiteatros não alcançasse, e aonde lutadores pudessem conquistar verdadeira honra e glória em combate. Ainda assim, seu lado pragmático sabia que teria que manter suas atividades na clandestinidade: sem contar o fato de que os administradores dos circuitos de lutas oficiais jamais aprovariam uma arena aonde seus investimentos não estivessem devidamente protegidos, as mortes que inevitavelmente ocorreriam no local por certo iriam atrair a atenção indesejada da lei.

O primeiro obstáculo que Sebastian enfrentou foi encontrar um recinto adequado para lutas secretas, mas este acabou sendo resolvido por puro acidente: enquanto realizava uma reforma rotineira, acabou acidentalmente encontrando uma gruta oculta logo abaixo do casarão em que morava. Agradecendo a Nimb pela boa sorte, ele prontamente contratou arquitetos especializados para reformar o local de acordo com as suas necessidades. Em poucos meses, seu ringue subterrâneo estava completo.

Mas antes que ele pudesse inaugurar a “Arena Secreta de Gorendill” (um nome que ele mesmo concebeu), Sebastian foi convocado para uma audiência com o prefeito. Mesmo com todos os seus esforços para manter tudo longe da atenção das autoridades, de alguma forma a existência da Arena havia chegado aos ouvidos de Guss Nossin. Quando se dirigiu ao escritório do prefeito, ele esperava receber uma sentença ditando o fim prematuro de seu empreendimento. Mais uma vez, foi surpreendido.

Guss Nossim é, acima de tudo, um homem de negócios que sabe reconhecer uma oportunidade quando a vê. Pressentia que a ideia de Sebastian poderia trazer ganhos tangíveis para a cidade, contanto que fosse propriamente administrada. Assim, o prefeito fez uma proposta ao ex-gladiador: garantiria que a lei faria “vista grossa” quanto as atividades da Arena, e inclusive contribuiria pessoalmente na forma de propaganda discreta. Em troca, teria direito de voz no gerenciamento dos negócios, além de uma parcela respeitável dos lucros. Acreditando ser melhor não abusar da boa sorte, Sebastian aceitou a oferta sem protestar muito.

Situação Atual

Nos dias de hoje, a Arena possui uma clientela ampla e fiel – chegando a ser famosa em certos círculos. Como Guss havia previsto, frequentemente chegam entusiastas de fora da cidade para assistir aos combates que acontecem no estabelecimento. Tal turismo clandestino se tornou um importante pilar econômico para Gorendill nestes tempos de crise.

A Arena costuma funcionar três noites por semana. A primeira noite é exlusiva para lutas de pugilismo e outras formas de combate não-letal. As limitações se afrouxam na segunda noite, quando já é possível assistir a duelos armados e as demais modalidades clássicas de competições de arena. Entretanto, o uso de magias e equipamentos mágicos (ou exóticos de alguma outra forma) ainda é restrito. Na terceira noite acontecem os “vale-tudo”, aonde nada é proibido e os combates são até a morte ou inconsciência. Apostas são livres, organizadas pelo próprio Sebastian, que embolsa uma porcentagem dos ganhos.

Os participantes normalmente são gladiadores semiprofissionais (do tipo que não encontra lugar nas grandes arenas) ou aventureiros que ganharam fama nos circuitos de lutas clandestinas. De tempos em tempos, o ringue é liberado para duelos amadores, mas apenas nas duas primeiras noites – combates vale-tudo aceitam apenas aqueles devidamente treinados. Devido a dificuldades quanto à logística e dissimulação, lutas envolvendo monstros são eventos rarissímos. Quando ocorrem, no entanto, eles sempre lotam as arquibancadas.

Seja como participante ou audiência, acesso à Arena se dá apenas por convite (embora um mesmo convite possa ser dividido entre até três pessoas). Além disso, uma taxa de T$ 10 por cabeça é cobrada na entrada, sendo que parte deste valor vai para o prêmio em dinheiro do grande vencedor da noite. Sebastian mantêm uma pequena equipe de segurança que, além de apaziguar quaisquer badernas dentro da Arena, também tem a incumbência de se certificar que todos que ingressam possuem convite e pagaram a taxa de entrada. O líder dessa equipe é um homem alto e musculoso chamado Trácio (Humano, Capanga 3, LM), braço direito de Sebastian.

A Arena

Devido a sua natureza clandestina, a Arena Secreta de Gorendill tem uma configuração frugal e utilitária, carecendo em muito da pompa dos grandes anfiteatros. Mesmo sim, ela impressiona quando examinada de forma objetiva.

Um produto de engenharia anã, a Arena foi arquitetada de forma a aproveitar ao máximo as características originais da gruta que lhe serviu de base. O ringue em si é uma fossa de cinco metros de profundidade, escavada no chão de pedra na forma de um prisma de base decagonal e com 12 metros de diâmetro em seu ponto mais largo. Parcialmente forrado por uma camada de areia, o chão do ringue tem uma inclinação leve em direção ao centro, enquanto suas paredes são lisas e totalmente verticais. Isso foi feito para impedir que quem esteja no fundo consiga subir até as arquibancadas, que rodeiam o ringue de forma que todos os espectadores tenham visão ampla do que ocorre em baixo. Os assentos são de pedra, esculpidos a partir de estalagmites, e tem uma capacidade máxima de 120 pessoas. O teto é coberto por uma colônia de fungos fosforescente, que ajudam na iluminação do recinto.

O acesso dos lutadores se dá através de duas passagens secretas, posicionadas em pontos opostos do ringue. Um engenhoso sistema de corredores labirínticos e paredes móveis conectam essas passagens aos diversos camarins de gladiadores e jaulas de monstros da Arena. Tal arranjo foi concebido como medida preventiva, para evitar que oponentes tenham um encontro acidental antes da luta. Sebastian e sua equipe de segurança conhecem os corredores como a palma da mão, e se revezam na função de guiar os participantes até o ringue.

Rumores & Boatos

  • Sebastian não sabe, mas a gruta em baixo de sua casa já fez parte do mesmo complexo subterrâneo no qual o Cemitério de Gorendill e a Guilda dos Ladrões estão situados. Apesar de a muito esquecidas, passagens secretas ligando a Arena as demais cavernas ainda existem.
  • Uma vez que eventos recentes inutilizaram alguns dos palcos tradicionais, a Arena Secreta de Gorendill tem ocasionalmente servido de estádio alternativo para as competições do Torneio Deus do Duelo. Diga-se de passagem, Sebastian tem tentado transformar este arranjo em algo mais permanente.
  • A pouco tempo, os piratas do porto trouxeram um grupo de legionários minotauros como prisioneiros. Afim de torna-los bodes expiatório para as frustrações do povo (e também se livrar das testemunhas de um possível incidente diplomático), Guss Nossin ordenou que Sebastian os atirassem em lutas das quais não possam sair vivos. O ex-gladiador não ficou nem um pouco feliz, uma vez que isso não é diferente das lutas arranjadas que tanto detesta, mas sabe que não está em posição para negar o prefeito.

4 comentários em “Gorendill: 1410 (10)”

  1. Iniciativa T20 vai vir ai tu poderia tentar ver Gorendill depois dos ultimos acontecimentos do cenario na iniciativa T20

  2. Enfim quero aproveitar o seu retorno pra agradecer por ter dedicado tempo pra esse projeto. Seu material me ajudou muito na construção da campanha que fiz em 2019, segundo meus jogadores a campanha mais épica que eles jogaram 🙂 e te digo não seria a mesma coisa se não fosse o teu material atualizando os acontecimentos vlw mesmo.

  3. Inclusive vou acrescentar mais um ponto teu conteúdo mudou a forma que eu preparo e organizo as campanhas (Que tento ter uma pegada mais Sandbox.) mais uma vez Obrigado.

    1. Obrigado pelos comentários Silvio. Fico feliz em saber que o material deste projeto foi bem aproveitado.

      Com relação a sua sugestão de participar da Iniciativa T20, infelizmente vou ter que denegar. Como havia dito na abertura deste artigo, existem pontos da versão atual de Tormenta (referente tanto as regras quanto ao desenvolvimento do cenário) com os quais não concordo e, sendo assim, decidi me distanciar do material oficial.

Deixe um comentário