Gorendill: 1410 (00)

Começo aqui uma nova etapa deste blog, um novo projeto. Uma revisão de Gorendill, a cidade criada por leitores da antiga revista Tormenta, afim de tornar este material compatível com o cenário atual.

Não se trata de uma mera atualização, que apenas leva em conta as mudanças que eventos importantes causaram no cenário e realiza as mínimas alterações necessárias. A própria Gorendill passara por uma reavaliação conceptual; de acordo, parte do antigo material pode vir a ser completamente excluída, enquanto materiais totalmente novos podem vir a ser incluídos. O que apresento neste primeiro post é a premissa na qual tudo isso vai ser fundamentado.

A propósito, aqueles que frequentam o fórum da Jambõ Editora talvez saibam que eu já tenho esta ideia fermentando há algum tempo. Inicialmente, tentei apresentá-la como um projeto coletivo no fórum – uma iniciativa de todos os fãs, como havia sido feito com a Gorendill original – mas minha sugestão não foi aceita com entusiasmo. Portanto, resolvi seguir com este trabalho de forma totalmente independente.

Espero que gostem do resultado.


Gorendill

O Último Entreposto

De maioria humana, Gorendill é a última cidade na fronteira oeste do reino de Deheon, e se encontra a poucos quilômetros das Montanhas Uivantes, às margens do Rio Panteão, no Vale do Arco. Devido à proximidade com as Uivantes, o clima da região é temperado, voltado para o frio (similar à Escócia ou Canadá).

Originalmente uma comunidade pacata, desprovida de atrativos para aventureiros, em tempos recentes o nome Gorendill tornou-se sinônimo de controvérsia. Desde os atritos com os seus vizinhos do Império de Tauron, até as políticas governamentais pouco ortodoxas de seu prefeito, não faltam polêmicas no cotidiano desta cidade. Fora daqui, um certo ditado tornou-se popular entre as más-linguas: “Gorendill é como um barril de pólvora de baixa qualidade: um passo em falso e ela explode”.

História

Gorendill se encontra no caminho entre duas importantes cidades: Malpetrim e Valkaria. Devido a esta localização privilegiada, grande parte das rotas comerciais que ligam estes dois centros urbanos tinham esta cidade como uma parada obrigatória. Mesmo assim, durante muito tempo Gorendill não soube como aproveitar todo o seu potencial, limitando-se apenas a realizar pequenas atividades comerciais – como o cultivo de frutas exóticas de clima frio. Outra atividade importante era a pesca no Rio Panteão: naquele ponto, as águas geladas abrigam versões de água doce do bacalhau e do atum.

Mas, certo dia, a situação de Gorendill mudou de forma brusca: Guss Nossin, antigo líder da guilda dos mercadores, assumiu o controle da cidade. De modo surpreendente, o novo líder dissolveu o Conselho (modo pelo qual a maioria das cidades do Reinado são administradas) e concentrou apenas em si os poderes e responsabilidades para com o destino da comunidade.

No início, boa parte dos cidadãos mostrou-se desconfiada com a atitude de Guss – mas este sentimento logo se dissolveu. Dono de uma visão extraordinária para negócios, Guss Nossin estabeleceu uma espécie de pedágio no Rio dos Deuses, cobrando uma taxa de cada barco comercial que passasse por lá em direção a Malpetrim. Em troca, o dono do barco ganhava um pequeno carregamento das exclusivas frutas de clima frio produzidas na cidade, para vender onde bem quisesse.

A prosperidade veio de forma quase imediata.

O sucesso das frutas gorendillianas em Malpetrim e além aumentou a venda da mercadoria. Não contentes em levar consigo apenas as frutas que ganhavam como “brinde” pelo pagamento do pedágio, os comerciantes passaram a comprar mais carregamentos para suprir a demanda de seus clientes. Rapidamente, a cidade começou a crescer e parecia que uma nova era de abastança havia finalmente chegado na região.

Infelizmente, o sonho durou pouco. Alguns anos após a ascensão de Guss, uma série de problemas fizeram frente a prosperidade da cidade. Um aumento na incidência de monstros nas redondezas dificultou o transito de pessoas e mercadorias, aumentando o custo do comércio e gerando inflação. Por outro lado, uma repentina intensificação da atividade criminosa dentro da cidade passou a ameaçar a segurança pública, trazendo diversos prejuízos. Em um plano maior, com o surgimento da área de Tormenta de Zahkarov e os desdobramentos das Guerras Táuricas, uma reformulação das rotas comerciais se mostrou necessária. Consequentemente, muitos dos lucrativos contratos que Gorendill havia conseguido estabelecer acabaram sendo invalidados.

Graças as eficazes contramedidas aplicadas por Guss, Gorendill conseguiu escapar de uma recessão econômica. Mesmo assim, não foi possível evitar que o crescimento pelo qual a cidade estava passando estagnasse. Uma vez que muitas das vantagens econômicas desapareceram, o comércio local tem sofrido para se manter fora do vermelho. Como consequência, diversos negócios e indústrias começaram a procurar por oportunidades em novas paisagens, agravando ainda mais a situação financeira da cidade. Em resposta, o prefeito não tem medido esforços para sair desse impasse.

Embora ainda conte com o apoio popular, Guss tem um prato cheio de problemas para resolver. Fora as questões financeiras e de segurança pública, ele ainda tem que lidar com os seus opositores políticos dentro da cidade – os antigos membros do Conselho. Aproveitando-se da situação atual, eles tem renovado seus esforços para tirar o prefeito do poder e reconstituir o sistema de governo anterior. Para isso, tem abertamente se valido de ardis como propaganda difamatória, afim de arrebanhar a insatisfação popular contra Guss.

E, uma vez que as sequelas da maior tragédia pela qual a cidade já passou ainda não se fecharam totalmente, esta pode mostrar uma jogada por demais perigosa…

O Ataque Táurico

Considerada como a hora mais negra da história recente de Gorendill, a “Injúria” – como é comumente chamada pela população local – foi uma consequência direta das Guerras Táuricas.

Objetivamente falando, a Injúria ocorreu devido a nada menos que um golpe de má sorte. Nos dias de hoje, é de conhecimento geral que, antes de invadir Deheon e atacar a capital de Valkaria, as legiões de Tapista que tiveram que primeiro realizar uma ousada travessia pelas Montanhas Uivantes. Na ocasião, um destacamento de legionários acabou se desgarrando das forças principais por acidente, perdendo-se no território do Reino Gelado.

Uma vez que não possuíam treinamento adequado de sobrevivência em áreas selvagens, e nem estavam acostumados ao clima e perigos naturais da região, estes minotauros sofreram durante sua passagem pelo inferno branco. Muitos perderam suas vidas durante a viagem. Os que sobraram conseguiram escapar das Uivantes em um ponto não muito longe de Gorendill.

Feridos, famintos e mentalmente instáveis devido ao cansaço e frustração extremos, os minotauros tomaram a pior das decisões: naquela hora de necessidade, em vez de pedir ajuda ao povo da cidade, escolheram chegar como conquistadores e pilhar os recursos que precisavam para voltar para casa. Atacaram sem aviso prévio, tomando tudo que queriam à força.

Lógico, eles encontraram resistência.

Gorendill nunca possuiu uma grande população de aventureiros, nem seus heróis eram particularmente poderosos. No entanto, todos amavam sua cidade e estavam dispostos a morrer defendendo-a. Em contrapartida, apesar de serem guerreiros bem treinados, os legionários de Tapista tiveram suas forças reduzidas pela viagem e estavam lutando em território inimigo, sem chances de obter reforços. Naquele momento específico, os dois lados do conflito possuíam capacidades de combate relativamente equivalentes. E, de certa forma, isso só serviu para piorar ainda mais a situação.

Uma vez que ambos os lados estavam lutando como iguais, nenhum conseguiu conquistar a vantagem necessária para subjugar o outro de forma rápida e definitiva, o que fez com que o conflito se estendesse por tempo em demasia. Como consequência, morte e destruição se espalharam pela cidade de forma descontrolada. Casas foram queimadas. Monumentos históricos foram despedaçados. Vidas foram perdidas.

No final, o que restou para os cidadãos de Gorendill foi uma vitória pírrica. Apesar dos minotauros terem sido rechaçados com sucesso, as perdas sofridas foram incalculáveis. Mesmo nos dias de hoje, anos após o ocorrido, a cidade ainda não foi capaz de se recuperar totalmente e marcas da batalha ainda podem ser vistas aqui e ali.

Como era de se esperar, os minotauros ganharam um status de persona non grata em Gorendill. Dificilmente a entrada de um membro da raça será permitida na cidade e, mesmo que seja, este jamais será bem-vindo. Por razões semelhantes, o povo de Gorendill nutre uma animosidade aberta pelo Império de Tauron – o que pode vir a gerar diversos problemas, uma vez que a nação dos minotauros se encontra bem próxima, a pouco mais de um dia de viagem descendo o Rio Panteão.

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